O trocadinho



Certa vez uma senhora já com seus 70 anos, cabelos grisalhos e um corpo rechonchudo, dona de uns quadris, parecia até que a qualquer momento seu corpo cairia para trás, encontrava-se naquele horário na rodoviária com a sua filha mais nova, estavam esperando o ônibus de viagem.
Dona Antonieta, esse era o seu nome, já estava impaciente com a demora do fretado, foi até o guichê se informar o porquê do atraso, o rapaz do outro lado do balcão, também estava incomodado com aquela situação, pois os passageiros estavam ficando furiosos, queriam que ele encontrasse uma solução, mas o rapaz pouco podia fazer , pois não dependia dele.
Já cansada de esperar e de reclamar com aquele rapaz ela resolveu se sentar do outro lado do guichê assim não teria mais que ficar ouvindo tantas reclamações dos outros pois para ouvir reclamações já bastavam as suas, pensou Dona Antonieta.
Sentou-se do outro lado e ficou olhando para o local de entrada dos ônibus, sua filha, uma moça muito calma e educada naquele momento se aproximou da mãe e pediu que ela tivesse um pouco de paciência pois afinal estavam passeando e não havia necessidade da mãe se alterar tanto.
Dona Antonieta entendeu e ficou ali mais tranqüila e quieta no seu canto, na verdade ela era um mulher de um humor e uma paciência que só Deus para tirá-la do sério, sim é verdade só Deus mesmo para tirá-la do sério, pois toda vez que uma coisa não dava certo, Deus era o culpado, isso já havia se tornado motivo de piada entre os familiares que sempre diziam:
- Como diz Antonieta, Deus é o culpado! – e riam dela.
E assim se passou meia hora naquele local, até que apareceu um garoto de uns 10 anos no máximo, chegou fazendo gestos com as mãos para mulher, estava pedindo um trocado, ela coitada não conseguia entender nada e no seu desespero por não conseguir decifrar um único gesto disse ao garoto:
- Não entendo o que quer me dizer, por que está fazendo esses gestos?
E garoto tão distraído e apreensivo que estava respondeu:
- É que eu não falo! A Senhora tem um trocado?
Dona Antonieta naquele momento não sabia se ria ou se dava uns safanões no danadinho, mas ao mesmo tempo ficou com dó da criança, tão maltrapilha, desnutrida, que por um segundo se lembrou que por detrás daquele garoto provavelmente algum adulto estaria tirando proveito daquela situação, ficou revoltada, mas com uma voz bem baixinha falou para o garoto:
-Ah! Você faz isso para ganhar um trocadinho, não é?
O menino naquele momento arregalou os olhos, pois percebeu que havia cometido uma gafe e nem esperou pelo trocado saiu em disparada no meio da multidão.
A mulher sorriu naquele momento, mas era um sorriso de decepção e pensou em quantas que crianças são exploradas todos os dias por pessoas que não tem um mínimo de dignidade e respeito por essas mesmas crianças que um dia serão os adultos formadores de opinião.

Moraalves

Comentários

  1. É. Na verdade, não ha como acabar com isso. sempre terá exploradores e explorados. uma sociedade igualitaria!? não é possivel. todos ricos ou todos pobres não é possivel. Quimera. utopia. mas pode-se melhorar no quesito educativo. imagine um lugar onde todos tem um nivel de escolaridade superior. ja seria uma melhora. é como dizem: o dominado só se liberta se vier a dominar aquilo que o dominante domina. dominar o que o dominante domina é condição para a libertação.

    ResponderExcluir
  2. MUITO BEM COLOCADA AS SUAS PALAVRAS! OBRIGADO CONCORDO PLENAMENTE!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog