“Velas para os Santos e Mortos”

Menino levado, nascido e criado no interior do ceará, lugar onde o sol logo cedo já castiga aqueles que trabalham na plantação de algodão. “Mesmo assim como é bom ser criança!” – pensou a avó ao ver o menino correndo pela estrada de terra, com os pés descalços, sem camisa e de shorts azul escuro desbotado.
Ela fica ali parada admirando o moleque, seu neto predileto, segredo esse que guarda à sete chaves e jura para todos que ama os outros cinco da mesma forma.
Todos os domingos o menino Josué, escolhe a melhor roupa, se arruma ligeiro e vai para igreja rezar, as vezes acompanhado da avó. Ao chegarem lá o sino começa a tocar e Josué de joelhos finge rezar, quando vê que a avó de terço na mão começa a cochilar, ele se põe a andar, olhando as imagens com tanta devoção que até o padre chega a duvidar.
Josué tem o hábito de também nos velórios e cemitérios entrar, chega devagar de mansinho sempre a espreitar.
Assim cresceu Josué , ouvindo muitas estórias da avó, estórias de lobisomem, que de dia é homem e em noite de lua cheia vira lobisomem, um lobo à uivar, para as pessoas assustar.
Muitas vezes o menino fica num canto sempre a pensar num jeito de algum dinheiro ganhar e foi assim que descobriu uma forma de um trocado ganhar.
Certa vez a mãe percebeu que o Josué andava com os bolsos cheios de moedas, ficou cismada decidiu que iria tirar aquela história a limpo. No domingo bem cedo, quando Josué se preparava para ir à missa, sua mãe resolveu segui-lo, naquele dia o menino iria sozinho, pois a avó estava muito atarefada.
E o menino foi todo feliz, nem percebeu a mãe logo atrás. Entrou na igreja e começou a rezar, de repente levantou a cabeça e reparou que todos oravam em silencio, de olhos fechados.
Josué se levantou num pulo e foi de imagem em imagem, apagando as velas e colocando-as no bolso, depois o sinal da cruz e saia sorrateiramente, ninguém percebia.
Josué chegava em casa,ia direto para o quintal dos fundos, colocava tudo num caldeirão , derretia e com o cano de metal novas velas fazia. Depois de tudo pronto ele não perdia tempo, juntava tudo numa sacola e ia para paróquia vender. Nos cemitérios e velórios a mesma coisa ele fazia , pedia desculpas aos mortos que ali estavam sepultados, fazia um sinal da cruz e as velas levava.
A mãe ficou pasma com a atitude do menino, esperou até que Josué terminasse seu “trabalho”, se é que poderia se chamar de trabalho uma coisa daquelas. – pensou a mãe.
Quando tarde da noite Josué em casa entrou, a mãe já o esperava de chinelo na mão, então para o menino falou:
- Josué a próxima vez que você fizer isso, um castigo você vai levar, que seja a última vez.
O menino ficou com medo depois que a mãe o repreendeu e nunca mais na igreja entrou, e os velórios e cemitérios nunca mais visitou.

Mora Alves
12/2010

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