Frida Khalo
O DIÁRIO DE FRIDA KAHLO – UM AUTORRETRATO ÍNTIMO
O Diario de Frida Kahlo é exatamente como o título diz um autorretrato íntimo da sua intensidade e originalidade, da sua maneira nada tediosa de viver. Foi escrito nos dez últimos anos de Frida Kahlo, período de 1944 a 1954, onde documenta com pinceladas tensas e coloridas, o seu processo criativo, as sua luta politica as reflexões da sua vida trágica e conturbada. O México vivia sua ebulição cultural e politica, as industrias petrolíferas e elétricas já haviam sido nacionalizas. O Instituto Politécnico Nacional já estava fortalecido , existia a distribuição gratuita de livros escolares.
Com o seu jeito aguerrido e apaixonado nessa obra, Frida retrata sua tumultuada vida, suas convicções, e seu amor insano por Diego Rivera. Um diário imediato, cada página, uma vértebra.
Um expressão verdadeira do ser, com todos os seus equívocos, cicatrizes e acertos que não foi feito para ser mostrado, mas para transformar a dor. O diário é um transformador. A sua intensa paixão e tema recorrente na sua obra, Frida escreve no seu diário :
“Diego. È uma verdade tão grande, que eu não queria falar, nem dormir, nem ouvir, nem querer. Sentir-me encerrada, sem medo de sangue, sem tempo nem magia,dentro do teu próprio medo,e dentro da sua grande angústia, e dentro da própria batida de seu coração. Toda essa loucura, se a ti perguntasse, sei que seria, para o teu silêncio, pura confusão..Peço-te violência, no absurdo,você me dás a graça, tua luz e calor. Gostaria de pintar-te , mas não há cores,por haver tantas, em minha confissão, a forma concreta do meu grande amor. (Kahlo, 2012, p.193)
Sua versatilidade aflora em um dos textos escritos em seu diário onde ela retrata uma amiga imaginaria, qual ela trocava confidencias e fantasias. Diz:
“Deveria ter uns 6 anos quando vivi intensamente uma amizade imaginária com uma garota demais ou menos da mesma idade. Na janela então do que era meu quarto dando para rua de Allende sobre um dos vidros mais baixos da janela, eu soprava meu “bafo”. E com o dedos desenhava uma “porta”, por essa porta eu saía na imaginação, com grande alegria e muita pressa cruzava o amplo terreno que dali eu via até chega a um leiteria que se chamava PINZÓN...Eu entrava pelo O de PINZÓN e descia impetuosamente ás entranhas da terra onde “minha amiga imaginária estava sempre a minha espera . Não me lembro da sua imagem e nem da sua cor. Sei porém que era alegre – que ria muito. Silenciosamente. Era ágil e dançava como se não tivesse peso nenhum. Observava seus movimentos e enquanto dançava eu contava meus problemas secretos. Quais? Não me lembro […].” (Kahlo, 2012, p. 230)
O diário e o melhor exemplos do seu gênio dinâmico, irreverente e pratico assim ela escreve mais um de seus textos para que postumamente a sua alma possa ser dissecada:
“ Fios, os nervos, os lápis, as folhas,o pó, as células a guerra e o sol, tudo aquilo que vive nos minutos dos não relógios e dos não calendários e dos não olhares vazios, é ele. Tu o sentiste por isso deixaste que o navio me trouxesse de Havre, de onde nunca me disseste adeus. Continuarei a escrever-te sempre com meus olhos. Beijo xxxxxx a menina. ( Kahlo, 2012, p. 196)
Sua personalidade intensa aflora em seus escritos. Transitam pensamentos abstratos entre seus esboços ilustrando o seu emblemático diário. “ Pés para que os quero se tenho asas para voar. ( Kahlo, 2012, p. 257)
2.1 A AUTORA - FRIDA KAHLO
Nasce em 1907, no subúrbio em Coyoacan na Cidade do México, Magdalena Carmem Frieda Kahlo y Calderón . Foi a terceira filha de Matilde Calderón y Gonzáles mexicana de origem indígena e espanhola, e do fotográfo Wilhelm ( Guilhermo) Kahlo judeu descendente de alemães. Alguns anos depois ela muda a grafia do seu nome para Frida.
Com sete anos de idade contrai poliomielite e ganho a maldoso apelido de “Frida Pata de Palo”, as sequelas da doença comprometem permanentemente seu pé direito. Em 1922 ingressa na Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México, com o objetivo de entrar na faculdade de medicina.
Aos dezoito anos ao voltar da escola para casa o bonde no qual ela estava,se choca com um trem; Frida quebra a bacia e a coluna dorsal além de sofrer vários ferimentos. Assim narra Frederico Morais na introdução da obra o Diário de Frida Kahlo:
“ Uma barra de ferro atravessou o seu corpo, fraturando a coluna vertebral. A pressão medular aumentou a atrofia da perna direita, já afetada pela poliomielite. O corpo de Frida foi lançado ao chão. Ela parecia agonizar, coberta de sangue e pó de ouro, que algum passageiro levava e, quebrado o vidro espalhou-se sobre seu corpo. A bailarina se feriu, diziam todos.”
Durante o período de convalescença como escapismo da
condição que a mantinha engessada e presa a cama do hospital da Cruz Vermelha, começa a pintar. Pinta o Autorretrato com vestido de veludo, o primeiro de muitos. Frida justificava respondendo: “Pinto a mim mesma porque sou sozinha e sou o assunto que conheço melhor.”
Com vinte e dois anos, casa-se com Diego Rivera e assim dá-se o principio da saga intensa e doentia do casal. Um sucessão de abortos, traições idas e vindas. Frisando que o muralista Rivera teve seis filhos com a sua irmã decorrente das rotineiras traições.
O destino reservado a Frida está cheio de desventuras, como as mais variadas intervenções cirúrgicas, com varias decorrentes de abortos espontâneos, remoção do apêndice, amputação dos dedos do pé. Também sofre de úlcera e anorexia.
Em 1953 a primeira exposição individual de Frida Kahlo é inaugurada. Ela aparece à abertura carregada e deitada em uma cama, devidamente paramentada com suas joias suas vestes impecáveis. Sua perna direita gangrenada é amputada até o joelho.
Em 1954 após contrair broncopneumonia, Frida participa de uma manifestação contra os norte americanos. Em de 13 de julho sua luz apaga-se para sempre. Morre oficialmente por “embolia pulmonar” mas há suspeita de suicídio.
Uma existência agitada, uma enorme força vital. Uma luta contra si mesma, contra o próprio corpo ferido, a alma e a mente de uma guerreira apaixonada. Uma mulher de entranhas expostas que jamais intimidou-se. A grandeza de suas obras encantam e fascinam gerações.
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